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Japão, Suíça e Brasil recebem galardão “Fóssil do Dia”, mas também já foi atribuído um “Raio do Dia” 

Quinta-feira, 04.12.14

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Há mais vencedores do “prémio” das ONG para os países com pior prestação nas negociações do clima, desta feita na COP20, que está a decorrer em Lima, no Peru. Na terça-feira, dia 2, o vencedor do "Fóssil do Dia" foi o Japão, devido ao financiamento de centrais a carvão e gás em países em desenvolvimento, em particular na Indonésia. 

Os japoneses estão a usar verbas destinadas ao combate às alterações climáticas para financiar tecnologias que continuam a causar os mesmos problemas. Para as ONG, não colhe o argumento de que é melhor financiar centrais a “carvão limpo” que as centrais tradicionais. 

Trata-se de uma visão pouco clarividente do que significa o desenvolvimento, dado que este tipo de centrais a carvão e gás não terão capacidade para gerar a energia necessária. Além disso, o preço dos combustíveis continuará a subir, pelo que a fatura será maior, assim como os impactos - muitos moradores já se queixam de que o lodo de carvão está a entupir os rios e matar os stocks de peixe, efeitos que não acontecem com as energias renováveis.

Em vez do cavaleiro de armadura brilhante que tenta parecer com os “fundos de arranque rápido”, o Japão é na realidade o dragão que comeu a donzela… Estas verbas deviam ter sido aplicadas em energias renováveis que resolvam os problemas da Indonésia. É para isso que serve o financiamento climático. [ver vídeo da cerimónia]

Suíça em primeiro e Brasil em segundo na quarta-feira

Ontem, quarta-feira, a distinção coube à Suíça, por ter-se oposto a quaisquer compromissos quantificados e juridicamente vinculativos sobre financiamento, mas também ter ameaçado os países em desenvolvimento de que esta reivindicação podia pôr em causa o resultado da COP20.

As ONG salientam que qualquer pessoa que escute a sociedade ou os cientistas sabe que é preciso fazer muito mais se quisermos manter o aumento da temperatura abaixo do limite internacionalmente acordado de 2°C. E para isso é fundamental prever um financiamento climático público que ajude os países em desenvolvimento a aumentar a escala das suas ações.

Houve outros países desenvolvidos, incluindo a UE e os EUA, que estiveram perto de ganhar um fóssil, dado que também rejeitaram fortemente compromissos em matéria de finanças. Mas foi o Brasil a receber o 2.º lugar, ao declarar que não existe uma dupla contabilização no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), um problema conhecido e documentado.

Pequenos Estados Insulares recebem primeiro “Raio do Dia”

Mas nem tudo são más notícias. A Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS) recebeu o galardão positivo, o ‘Raio do Dia’, por ser o primeiro grupo nesta COP a apoiar diretamente a eliminação total da poluição de carbono até ao ano 2050. O que torna esta afirmação ainda mais importante é que outros países juntaram suas vozes à AOSIS, nomeadamente os da Aliança Independente da América Latina e do Caribe (AILAC) e a Noruega.

Para as ONG, atingir esta meta até meados do século, a par de uma transição justa para 100% de energias renováveis, é a nossa única esperança para ficar abaixo do limite de 2°C. Para isso é preciso garantir o apoio financeiro e tecnológico suficiente para a transição dos países, começando, por exemplo, a mudar os subsídios e os investimentos dos combustíveis fósseis para as energias renováveis.

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publicado por Quercus às 19:06

Relatório expõe impactos ambientais da extração de gás de xisto

Quinta-feira, 04.12.14

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O relatório "Fracking Frenzy" (ver PDF), divulgado recentemente pela ONG Amigos da Terra Europa, evidencia a expansão da exploração de combustíveis fósseis do tipo não convencional (como o gás de xisto) pelo recurso à fraturação hidráulica (“fracking”, em inglês) pelo sector petrolífero por todo o Mundo, e que os planos de desenvolvimento futuro deste tipo de técnica estão a colocar sérios riscos para o ambiente e as comunidades locais.

O estudo avaliada a situação de 11 países em zonas vulneráveis da América Latina (México, Brasil, Argentina), Ásia (Índia, Indonésia, China e Rússia) e África (Marrocos, Argélia, Tunísia, África do Sul) e as conclusões apontam que a fraturação hidráulica tem-se generalizado em ecossistemas mais frágeis do que aqueles onde a tecnologia começou a ser utilizada, nomeadamente em países sob grande escassez de água potável, em áreas de elevado risco sísmico, em regiões onde os aquíferos transfronteiriços são a principal fonte de água potável, etc.

A crescente exploração, à escala mundial, deste tipo de combustíveis fósseis, tem gerado muita controvérsia entre cientistas, empresas, decisores políticos, associações ambientalistas e a sociedade civil, devido ao seu modo de extração. Na América do Norte, mais de uma década de exploração destes combustíveis fósseis não convencionais deixou um sério legado de danos ambientais pelo recurso à fraturação hidráulica.

Esta técnica de perfuração consiste em injetar grandes volumes de água, sob pressão e com a adição de areia e químicos, provocando fraturas para extração do gás no subsolo. Os impactos ambientais são múltiplos, desde o uso de químicos e de grandes volumes de água, até à contaminação de solos e lençóis freáticos, poluição atmosférica e emissões de gases com efeito de estufa, com impacto nas alterações climáticas.

Apesar da controvérsia e das incertezas associadas à fraturação hidráulica, e mesmo considerando que a tecnologia ainda se encontra numa fase inicial de exploração, já é possível constatar inúmeras tentativas de empresas e governos para alterar os quadros jurídicos nacionais, tornando-os mais flexíveis, favoráveis e socialmente aceites para o uso generalizado esta tecnologia, em detrimento da proteção do ambiente e das populações locais.

O relatório apresenta, ainda, algumas perspectivas sobre os impactos dramáticos sobre as alterações climáticas que poderão ser agravadas com a expansão massiva da fraturação hidráulica à escala mundial, com destaque para os elevados custos de exploração pagos pelos países do Sul.

Com o início das negociações climáticas em Lima esta semana, este estudo relembra uma vez mais que não é possível apostar em falsas soluções energéticas, como a exploração de gás de xisto, para combater as alterações climáticas. 

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Mapa mostra as reservas de gás de xisto, em simultâneo com a localização das principais reservas subterrâneas de água potável e com o risco sísmico ao nível global.

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publicado por Quercus às 11:57