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Alteração dos usos do solo no Mediterrâneo estão a desencadear grandes mudanças climáticas na Europa e ao nível global

Quinta-feira, 12.11.15

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As alterações de uso dos solos que ocorreram ao longo do século passado na zona do Mediterrâneo podem estar a desencadear mudanças nos padrões climáticos locais em toda a Europa, e ao nível global, segundo os resultados de um projecto europeu. Os resultados trazem à luz novas complexidades que podem ser integradas em modelos climáticos e previsões.

A Comissão Europeia lançou e financiou parcialmente vários estudos de monitorização do clima na década de 1970, na sequência da Conferência de Estocolmo. Os dados foram recolhidos através de vários métodos, tais como torres meteorológicas, balões fixos e medições feitas através de aeronaves. Durante a investigação,os cientistas observaram uma diminuição na frequência das tempestades de verão na bacia do Mediterrâneo Ocidental. Esta observação não foi uma parte central dos estudos; mas anos depois, os dados foram reanalisados com este detalhe em mente. Esta última análise foi co-financiada pelo projeto CIRCE da Comissão Europeia.

Os investigadores descobriram que a diminuição das tempestades de verão na bacia do Mediterrâneo Ocidental inicia uma série de eventos que levam à acumulação de vapor de água e poluentes atmosféricos em camadas acima do nível do mar, designado de “modo de acumulação”. Este ciclo pode durar vários dias e acontecer várias vezes por mês durante o verão. Cada ciclo termina com tempestades e inundações potenciais na Europa Central, em vez de precipitação na região do Mediterrâneo. Consequentemente, esta mudança resulta em secas em outras partes do Mediterrâneo durante os meses de verão.

Os investigadores concluíram que estas alterações dos padrões climáticos são um resultado da alteração dos usos do solo ao longo da costa e das regiões montanhosas do Mediterrâneo.

Desde há um século, as zonas pantanosas foram drenadas e as florestas foram destruídas na região. Uma maior urbanização também resultou em grandes quantidades de solo a ser ocupado e impermeabilizado com a construção de habitações e infraestruturas. Este facto resulta em menor evaporação de água, o que faz com que as tempestades de verão se desloquem para áreas mais interiores, em vez da água ser precipitada e reciclada dentro do sistema costeiro mediterrânico. As chuvas intensas expõem as áreas mais interiores ao risco de inundações constantes, erosão do solo e até de contaminação da água por poluentes retidos pelo vapor de água.

A precipitação está a reduzir-se de forma significativa sobre o Mediterrâneo e, por conseguinte, a fluir menos água para o mar. Este facto traz como consequência um aumento da salinidade na interface Atlântica-Mediterrânica, em Gibraltar e pode induzir tempestades intensas na parte atlântica da Europa durante o verão e outono, ou mesmo alterar os padrões climáticos no Golfo do México. Outro efeito decorre da formação de camadas de nuvens, criando um efeito de estufa e aumentando a temperatura da superfície do mar ao largo da costa do Mediterrâneo. Este processo pode ressurgir meses depois, causando tempestades intensas na costa no outono, primavera e inverno.

Em suma, a alteração dos usos do solo na zona do Mediterrâneo está a contribuir para estados severos de desertificação e inundações em outras partes da Europa. As regiões costeiras estão a perder precipitação necessária durante os meses de verão, aumentando a desertificação, mas são também alvo de tempestades intensas durante o outono, primavera e inverno. Enquanto isso, as regiões interiores estão a sofrer inundações durante o verão. Os modelos climáticos atuais baseados em interfaces atmosfera-oceano-terra não são capazes de levar em conta estes processos e, como resultado, podem levar a falsas conclusões sobre o clima futuro. Os investigadores apelam para ações urgentes dos governos, como a rápida reflorestação de áreas destruídas, e exigem mais recursos para investigação no sentido de obter uma melhor previsão dos eventos climáticos extremos.

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publicado por Quercus às 10:19


1 comentário

De humberto a 22.11.2015 às 14:12

Não posso dizer que perceba muito do assunto, ao contrário destas pessoas que estão a ser financiadas especificamente para estudar o que se passa no Mediterrâneo, pelo que até estava mais... ou... menos... a engolir algumas das conclusões a que chegaram até (segundo o que aqui leio no vosso texto) afirmarem que a formação de camadas de nuvens cria um efeito de estufa que aumenta a temperatura da superfície do mar.

É certo que o vapor de água tem uma capacidade de retenção de calor (aquilo a que vocês erradamente chamam de "efeito de estufa") incomparavelmente maior do que o insignificante CO2 e essa capacidade de retenção de calor do vapor de água altera a temperatura local (é a razão de o litoral ser mais ameno que o interior) mas se há formação de nuvens entra também em acção o albedo e este contraria qualquer retenção de calor que o vapor de água abaixo das nuvens possa ter. As nuvens reflectem parte da radiação solar de volta para o espaço (fazem sombra sobre o que está abaixo delas).

Portanto, dizerem que nuvens aumentam a temperatura da superfície do mar quando são as próprias nuvens a bloquear a radiação solar que chega à superfície do mar impedindo-o de aquecer parece-me severamente contraditório e só isso é suficiente para pôr o estudo em causa pois tudo está interligado e se um aspecto falha... os restantes têm de ser reanalisados.

No mínimo, seria conveniente dizerem a que tipo de nuvens se referem. Talvez se compreendesse um bocadinho melhor...


´´
«Os investigadores apelam para ações urgentes dos governos, como a rápida reflorestação de áreas destruídas, e exigem mais recursos para investigação no sentido de obter uma melhor previsão dos eventos climáticos extremos.»


Não é apenas uma rápida reflorestação. Têm, por exemplo, de ser plantadas as espécies de árvores certas para cada zona mas isto é apenas um pormenor no meio de uma imensidão de aspectos a corrigir. As soluções para minorar os efeitos das alterações dos solos, mesmo sendo complexas, são há muito conhecidas e só não são implantadas porque esbarram na burocracia e na falta de financiamento.

O curioso é que estes investigadores (segundo o que aqui leio) limitam-se a apelar a uma rápida reflorestação mas... EXIGEM mais recursos para eles próprios!

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