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Falta de ambição política atrasa ação climática e deixa mais longe o objetivo dos 1,5oC

Sexta-feira, 18.11.16

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Marraquexe, 18 novembro 2016 – Termina hoje a 22ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP22), a decorrer desde o dia 7 de novembro em Marraquexe. Apesar de, inicialmente, as expectativas serem elevadas quanto à definição de um roteiro ambicioso para a implementação do Acordo de Paris, a Quercus considera que a COP22 ficou aquém deste objetivo e não apresentou nada de novo em relação à COP21, em Paris.

A COP22 reuniu chefes de estado, chefes de governo e delegações de 197 países, que adoptaram por aclamação a Proclamação de Ação de Marraquexe, onde é reafirmada a “irreversibilidade da dinâmica climática” e a necessidade de “envolvimento político ao mais alto nível” de modo a que ação climática possa sustentar a concretização dos objetivos de desenvolvimento sustentável a bem das populações e do planeta. 

 

Muita retórica, mas pouca concretização

Os sucessivos apelos da sociedade civil são sustentados cada vez mais por robustos relatórios e estudos da comunidade científica, dando conta de que os objetivos nacionais de redução de Gases de Efeito de Estufa (GEE) estão obsoletos e são insuficientes para cumprir aquele que é o principal (e inovador) objetivo do Acordo de Paris: limitar o aumento da temperatura média do planeta o mais próximo possível dos 1,5ºC, acima dos níveis pré-industriais.

À data de hoje, o Acordo de Paris tinha sido já ratificado por 111 partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, representando mais de 70% das emissões globais de GEE. Contudo, apesar de se incluírem aqui alguns dos maiores emissores mundiais de dióxido de carbono (CO2), é sabido que os atuais compromissos de redução de emissões e a falta de vontade para operar a transição energética necessária antes de 2020 conduzirão o planeta a um perigoso aumento da temperatura global superior a 3ºC. 

 

Onde está o financiamento climático?

Num protesto que decorreu ontem, às portas da COP22, os manifestantes exibiram cartazes com as letras ‘WTF’, um trocadilho usado para perguntar ‘Where’s the Finance?’(‘Onde está o financiamento?’). Alavancar a questão do financiamento climático era um dos requisitos chave para garantir o sucesso da COP22. Pedia-se um plano fiável e robusto que definisse de que forma os países desenvolvidos cumprirão a sua promessa de disponibilizar 100 mil milhões de dólares por ano (o designado Fundo Verde para o Clima da Organização das Nações Unidas).

 

União Europeia desilude

As organizações de defesa do ambiente europeias têm vindo a acusar a Comissão Europeia de ser incoerente entre a sua retórica nas negociações internacionais sobre o clima e a ausência de diálogo entre a própria UE e os seus Estados-Membros, enquanto se prepara o futuro pacote legislativo sobre energia.

No final deste mês, a Comissão Europeia irá divulgar o seu "Pacote de Inverno”, composto por oito propostas legislativas, incluindo uma revisão de várias Diretivas relativas às energias renováveis, eficiência energética e das regras de conceção do mercado europeu da eletricidade. Segundo o que tem sido apurado pelas organizações de defesa do ambiente que fazem parte da Rede Europeia de Ação Climática, a UE está em total contradição com os objetivos do Acordo de Paris, a avaliar pelos textos iniciais destas propostas, que circularam de forma não oficial, mostrando que a UE está a planear atenuar as suas políticas energéticas depois de 2020.

Os objetivos nacionais vinculativos em matéria de energias renováveis terminam em 2020, e a meta da UE para 2030 de 27% está pouco acima dos 24% que se prevê serem atingidos.

Outro ponto importante é a questão das emissões provenientes do transporte marítimo e da aviação internacionais, que ficaram de fora do Acordo de Paris. Tendo em conta o seu crescente impacto climático, isso poderá reverter os esforços de redução noutras áreas. 

 

Há um antes e um depois de Trump

A COP22 ficou inevitavelmente marcada pela eleição de Donald Trump como o próximo presidente dos EUA. Uma das suas promessas de campanha passa por tirar os EUA do Acordo de Paris e cortar o financiamento (de milhões de dólares) destinado aos programas da ONU de luta contra as alterações climáticas. Apesar de terem ratificado o Acordo de Paris, existem incertezas sobre e como Trump poderá – caso realmente o faça – desvincular os EUA do acordo climático global e pôr em causa o sucesso da sua própria implementação.

O Secretario de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou nas suas declarações na COP22, que a ‘grande maioria’ dos cidadãos norte-americanos apoiam medidas para suportar a ação climática.

Outro ponto em aberto é a Rússia que, sendo o terceiro maior poluidor mundial, ainda não ratificou o Acordo de Paris.

 

Prospeção de petróleo mancha bom desempenho de Portugal

Em simultâneo com a divulgação do Climate Change Performance Índex 2017, um índice que colocou Portugal entre os 10 países industrializados com melhor desempenho climático, o Primeiro-Ministro português António Costa afirmou na COP22 que os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris serão uma prioridade nacional. A grande aposta nas energias renováveis e a progressiva descarbonização do setor dos transportes foram os dois grandes argumentos mencionados. 

António Costa pretende que Portugal seja um exemplo, afirmando que está a ser preparada a revisão do Roteiro de Baixo Carbono para 2050, no sentido de “sermos neutros em emissões de gases com efeito de estufa até ao final da primeira metade do século".  

A política climática nacional pode considerar-se já obsoleta em relação aos objetivos que o país pode atingir, ficando-se por compromissos que praticamente já foram alcançados. Atualmente, Portugal já alcançou mais de 87% da meta definida para 2020 ao nível das energias renováveis, pela instalação de 12.300 megawatts de tecnologias renováveis, representando 61% da potência de toda a produção de eletricidade.

Para levar realmente a sério as ambiciosas e optimistas palavras do Primeiro-ministro, um sinal importante seria a recusa da exploração de hidrocarbonetos em Portugal, pelo cancelamento das atuais 15 concessões de prospeção e exploração destes combustíveis fósseis na costa portuguesa.

 

Fiji presidem à COP23, que será em Bona 

Neste momento, sabe-se já que a COP23 em 2017 será presidida pelas Ilhas Fiji – algo bastante significativo, na medida em que se trata de um pequeno país insular em desenvolvimento (os mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas) – e irá ter lugar em Bona, na Alemanha.

 

A participação da Quercus na COP22

A Quercus, membro da Rede Europeia de Ação Climática, acompanhou as negociações da COP22 diretamente de Marraquexe, tendo estando presente durante toda a Conferência, integrada na delegação oficial portuguesa, enquanto representante das ONGs nacionais de defesa do ambiente e da sociedade civil. Ma blue zone, de acesso mais restrito, a Quercus fez-se representar por João Branco, Presidente da Direção Nacional, e Luís Moreira, Coordenador do Grupo de Energia e Alterações Climáticas, que participaram em reuniões paralelas, nomeadamente com o Ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes.

Para João Branco “é urgente alavancar a transição energética para uma economia de baixo carbono, que privilegie o investimento nas energias renováveis, em harmonia com as políticas de conservação da Natureza, e na eficiência energética, ao invés de alimentar o lobby dos combustíveis fósseis ou excluir das negociações setores altamente poluentes, como o transporte marítimo e a aviação internacionais.” Acrescentou ainda que “se a União Europeia pretende, tal como afirmado na COP22, liderar a ação climática, não pode deixar que a instabilidade do cenário político mundial abale a confiança na persecução dos objetivos selados em Paris”.

Este ano, e pela primeira vez, a Quercus esteve também representada através de um stand na Zona Verde tendo estabelecido inúmeros contactos com outras organizações da sociedade civil de Marrocos e os demais países participantes na COP22.

 

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publicado por Quercus às 16:56

ONG defendem redução drástica das emissões poluentes das centrais termoelétricas a carvão

Sábado, 05.12.15

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Um estudo publicado hoje pela Rede europeia de Acção Climática (CAN Europe) e pelo Greenpeace Reino Unido revela que as emissões de dióxido de carbono das envelhecidas centrais a carvão europeias terão de ser reduzidas três vezes mais rapidamente do que o ritmo actual, de forma a cumprir os esforços globais para limitar o aquecimento global.

O relatório, realizado com o apoio de analistas do Sandbag, baseia-se numa base de dados abrangente que permite pela primeira vez calcular a quantidade de carbono libertada pelas 280 centrais atualmente em funcionamento na UE, incluindo duas em Portugal (Sines e Pego).

Em 2014, esta enorme frota europeia de centrais a carvão lançou um total de 762 milhões de toneladas de CO2 – o equivalente às emissões combinadas de França, Espanha e Portugal. Esta fatia corresponde a quase um quinto (18%) das emissões totais de gases com efeito de estufa na UE, quase tanto quanto a fatia do setor dos transportes rodoviários (21%).

Acresce, conclui o estudo, que dois terços (66%) destas centrais estão em operação há 30 anos ou mais, o que as torna particularmente ineficientes, poluidoras e propensas a falhas.

Segundo especialistas da Agência Internacional da Energia, citados no estudo, as emissões de carbono com origem na queima de carvão terão de descer em média 8% por ano até 2040 para manter o aquecimento global abaixo de dois graus. Mas o relatório mostra que estas emissões só desceram uma média de 2,3% anuais nos últimos nove anos.

As ONG instam os líderes europeus a controlar a poluição destas centrais a carvão, através do estabelecimento de planos nacionais claros, com prazos para excluir o carvão dos seus sistemas de energia. Reino Unido, Áustria e Finlândia já avançaram com compromissos neste sentido.  

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publicado por Quercus às 10:46

Allianz anuncia cortes de investimento no carvão e favorece renováveis

Sábado, 28.11.15

A seguradora alemã Allianz SE, um das maiores gestoras de ativos financeiros do mundo, anunciou os seus planos para reduzir os investimentos em empresas que utilizam carvão e aumentar o financiamento a empresas focadas em energia eólica nos próximos seis meses.

As razões deste desinvestimento no carvão e aposta em energias renováveis prendem-se com o impacto sobre as alterações climáticas e do seu plano de negócios. A decisão irá afetar investimentos da ordem dos 4 mil milhões de Euros.

O presidente-executivo Oliver Baete afirmou o compromisso da Allianz em desinvestir em empresas, se mais de 30% por cento das suas vendas forem provenientes da exploração do carvão ou se este gerar mais de 30% por cento da produção de energia elétrica.

A poucos dias da COP21 em Paris, a Allianz dá o seu contributo para cumprir o objetivo de limitar o aquecimento global em 2ºC que será reforçado nas negociações em Paris, e mostra-se consciente sobre os riscos económicos envolvidos no investimento em fontes de energia de grandes emissões de carbono.

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publicado por Quercus às 12:00

Reino Unido anuncia planos para encerrar centrais a carvão em 2025

Sexta-feira, 27.11.15

coal_power_plant.jpgO governo do Reino Unido anunciou na semana passada os seus planos para encerrar todas as centrais de produção de energia a carvão até 2025, e de limitar a sua utilização já a partir de 2023.

A decisão foi anunciada pela Secretária de Estado para a Energia e Alterações Climáticas, Âmbar Rudd, num discurso que estabelecia um novo rumo para a política energética do país, centrado na segurança de fornecimento de energia e mais dirigida para as famílias e empresas.

No último século, o Reino Unido tem vindo a desenvolver-se à custa do investimento em tecnologias com grandes emissões de carbono, como centrais de produção de energia a carvão, muito poluentes e algumas com mais de 50 anos de idade. 

Esta notícia chega poucas semanas antes da COP21 em Paris, destinada a garantir um novo acordo sobre as alterações climáticas, e que deverá incluir uma grande pressão por metas nacionais para reduzir as emissões globais e eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.

As associações de defesa do ambiente mostram-se satisfeitas com os planos do Reino Unido para abandonar o carvão, mas criticam a nova aposta do país no gás natural e em centrais nucleares, quando a aposta e o investimento deveriam ser na eficiência energética e energias renováveis, mais seguras, acessíveis e limpas.

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publicado por Quercus às 10:00

Atlas do carvão: factos, números e impactos do consumo

Sábado, 21.11.15

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A Heinrich Böll Foundation e a Friends of the Earth International lançaram esta semana o “Coal Atlas”, uma ferramenta online que disponibiliza os factos e números mais recentes sobre o carvão, e prejuízos ambientais e sociais resultantes do seu consumo. Com mais de 60 gráficos detalhados, o atlas ilustra bem o impacto da exploração de carvão sobre o ambiente, a saúde, o trabalho, os direitos humanos e a política.

Se o mundo quiser evitar uma catástrofe climática nas próximas décadas, terá que renunciar à queima de quase 90% das reservas comprovadas de carvão, mais de um terço das reservas de petróleo e metade das reservas de gás natural. Mas, em vez de implementarem políticas destinadas a concretizar este objetivo, os governos de todo o mundo continuam não só a subsidiar a produção de combustíveis fósseis, mas também a usar os escassos recursos públicos para encontrar novas reservas. Esta é uma situação que tem de mudar rapidamente.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta que os subsídios livres de impostos atribuídos ao carvão (incluindo danos ambientais) atingiram 3,9% do Produto Interno Bruto a nível global em 2015. Só os governos do G-20 atribuíram 452 mil milhões de dólares anuais em subsídios públicos para a exploração de combustíveis fósseis. Um estudo do Natural Resources Defence Council, Oil Change International e World Wild Fund for Nature revelou que, entre 2007 e 2014, os governos desviaram mais de 73 mil milhões de dólares – ou 9 mil milhões de dólares por ano – do erário público para financiar projetos de carvão. Na liderança, está o Japão (20 mil milhões), a China (cerca de 15 mil milhões), a Coreia do Sul (7 mil milhões) e a Alemanha (6,8 mil milhões).

Este investimento aumenta o já substancial financiamento comercial para o sector do carvão. Em 2013, 92 dos maiores bancos mundiais financiaram projetos de carvão da ordem das 66 mil milhões de libras (71 mil milhões de dólares), quatro vezes mais do que em 2005. Tudo para apoiar um setor responsável por emissões massivas a nível global e determinado a não mudar de rumo. 

Desde 1988, 35 empresas associadas à exploração de carvão, privadas e públicas, têm contribuído para um terço das emissões totais de CO2. O impacto no ambiente não é segredo. E, no entanto, as empresas que exploram carvão e outros combustíveis fósseis recusaram-se a ajustar os seus modelos de negócios. Em vez disso, trabalham ativamente para bloquear os esforços para mitigar as alterações climáticas a nível nacional e internacional, incluindo através do financiamento a opositores às alterações climáticas e exercendo influência contra metas de energia renovável e instrumentos de mercado bem sucedidos, como as tarifas de injeção na rede.

Enquanto isso, o sector do carvão argumenta que tem vindo a desempenhar um papel indispensável na luta contra a "pobreza energética" - isto é, a falta de acesso a fontes não poluentes de energia, principalmente energia elétrica. É verdade que a pobreza energética é um problema global, afetando cerca de 1,2 mil milhões de pessoas em todo o mundo. Para os agricultores que dependem de água bombeada para irrigar as suas culturas, isto significa menor eficiência e produtividade. Para as famílias que precisam de queimar lenha, fezes de animais e querosene para cozinhar, pode significar poluição do ar interior e doenças respiratórias associadas. Para crianças em idade escolar, a falta de iluminação (ou insuficiente) representa a perda de oportunidades de aprendizagem.

O carvão não é a solução para o futuro. Os prejuízos para a saúde resultantes da extração e combustão de carvão são surpreendentes. Em 2013, a pneumoconiose em trabalhadores de minas de carvão (a chamada "doença do pulmão negro") causou mais de 25.000 mortes prematuras, a nível mundial. Na União Europeia, a combustão do carvão é responsável por 22.300 mortes prematuras por ano. Na China, estima-se que 670.000 mortes prematuras ocorram devido ao consumo de carvão.

Os prejuízos para a saúde acarretam elevados custos económicos, associados com a perda de dias de trabalho e pressão acrescida sobre os sistemas de saúde. As alterações climáticas, também, terão custos enormes, mesmo se não forem tomadas medidas de mitigação e adaptação sobre o setor da energia. Para os 48 países menos desenvolvidos, os custos associados com o carvão irão totalizar, em breve, 50 mil milhões de dólares por ano.

A exploração de combustíveis fósseis não deve ser estimulada por subsídios, mas em vez disso esta atividade deve pagar parte dos prejuízos associados com o impacto das alterações climáticas. Só no ano passado, as duas maiores empresas petrolíferas - Chevron e ExxonMobil – obtiveram mais de 50 mil milhões de dólares em lucros.

Se o mundo quiser limitar o aumento da temperatura global a apenas 2°C acima dos níveis pré-industriais, sem ser forçado a empregar tecnologias perigosas e arriscadas (como a captura e armazenamento de carbono), o modelo energético deve sofrer uma transformação profunda.

Em primeiro lugar, os líderes mundiais devem comprometer-se com a eliminação progressiva do uso de combustíveis fósseis, com o objetivo explícito de manter 90% das reservas comprovadas de carvão, um terço das reservas de petróleo, e metade das reservas de gás no subsolo. Os governos devem também acabar com os subsídios públicos para o carvão e outros combustíveis fósseis, o mais rapidamente possível, dentro dos próximos anos, garantindo ao mesmo tempo que as comunidades mais pobres e vulneráveis não sofrem um aumento dos preços da energia.

Além disso, os governos por todo o mundo deverão manter as empresas produtoras de carvão e outros combustíveis fósseis responsáveis pelos danos ambientais que os seus produtos causado, inclusive através de uma taxa sobre a extração para financiar o Mecanismo de Varsóvia sobre Perdas e Prejuízos, ao abrigo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. O direito internacional - em particular, o princípio do "poluidor-pagador", a regra de "não-agressão", e o direito de indemnização – suportam tal sistema.

Finalmente, para enfrentar a pobreza energética, os líderes mundiais devem ampliar o financiamento para projetos de energia renovável e descentralizada, incluindo através de uma tarifa de injeção na rede financiada globalmente para mini-redes de energia renováveis nos países em desenvolvimento.

O sucesso das empresas que exploram combustíveis fósseis na salvaguarda dos seus próprios interesses veio à custa de impactes para o ambiente e da saúde humana. Está na hora de rever o sistema de energia global – a começar por manter no subsolo a maioria das reservas de carvão e outros combustíveis fósseis.

 

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publicado por Quercus às 10:00

Greenpeace quer converter negócio de lenhite da Vattenfall em exemplo de ação contra as alterações climáticas

Terça-feira, 27.10.15

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Na semana passada, a Greenpeace Países Nórdicos apresentou uma "declaração de interesse" para a aquisição do negócio de lenhite da empresa alemã Vattenfall, na qual descreve a sua estratégia para o futuro da empresa. Logo após a conferência de imprensa em Berlim, a Greenpeace também irá apresentar a "declaração de interesse" ao banco Citigroup.

A Greenpeace Países Nórdicos prevê a criação de uma fundação constituída ao abrigo da lei alemã com o objetivo de eliminar, de forma gradual e sustentável, a exploração mineira de lenhite e abandonar a produção de energia elétrica a partir do carvão até 2030, o mais tardar.

Esta organização está a preparar-se para assumir a responsabilidade pela proteção do clima, a saúde humana e a criação de emprego na região, se a própria empresa e o Governo sueco não estiverem dispostos a fazê-lo. Esta é uma oportunidade de transformar um negócio sem futuro baseado no carvão num exemplo para o mundo de como pode ser realizada a transição para as energias renováveis e a sustentabilidade.

A "declaração de interesse" inclui uma estimativa do verdadeiro valor de mercado das operações de lenhite da Vattenfall e descreve as intenções da Greenpeace Países Nórdicos para uma potencial aquisição.

A estimativa faz parte de uma análise realizada pelo Instituto Brainpool para a Energia, a pedido da Greenpeace Países Nórdicos. Esta análise mostra claramente que o alegado valor das operações de lenhite da Vattenfall anteriormente relatado nos meios de comunicação social foi muito subestimado. O valor líquido atual da Vattenfall, na região alemã da Lusatia, equivale a menos de meio milhar de milhão de euros.

O valor real de mercado também deve incluir os custos de reabilitação de minas a céu aberto e a demolição de centrais a carvão, bem como os custos de reestruturação, um passivo que ascende a mais de dois mil milhões de euros. Além disso, quando o valor real inclui todos os passivos ambientais e sociais, pode mesmo atingir o montante total de dezenas de milhar de milhões de euros.

Para além da Greenpeace Países Nórdicos, apenas as empresas checas EPHCEZ da área da energia expressaram publicamente o seu interesse em adquirir a empresa Vattenfall. Para a Greenpeace, qualquer pessoa envolvida, seja vendedor ou comprador, que não toma em consideração o valor real de mercado na transação, incluindo os passivos ambientais e sociais, está a contar com a possibilidade de transferir estes custos, neste caso, muito provavelmente o Estado alemão e, em última instância, os seus cidadãos.

É urgentemente necessária uma ação enérgica sobre as alterações climáticas, e também as associações, como a Greenpeace, estão empenhadas em garantir que esse processo faz parte da solução e não um outro exemplo de fracasso político.

 

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publicado por Quercus às 10:22

Apelo para Turquia abandonar o plano do carvão

Quinta-feira, 15.10.15

A Turquia poderá vir a tornar-se a nova bomba climática na Europa, apoiada por empresas públicas francesas. Por toda a Europa, as associações de defesa do ambiente estão a pedir à França para abandonar os projetos para a construção de novas centrais a carvão na Turquia.

A França está a seguir dois caminhos distintos e inaceitáveis, na antecipação da próxima Cimeira do Clima de Paris, em Dezembro próximo. Por um lado, o governo anuncia o aumento do financiamento climático e proíbe créditos de exportação para o carvão, mas por outro lado as empresas parcialmente públicas Engie e EDF estão a desenvolver grandes projetos para o carvão - principalmente fora da Europa. Juntas, estas empresas operam 46 centrais a carvão, a nível mundial.

A Engie quer aumentar a sua capacidade de produção a partir do carvão, como demonstram os planos para a nova central Ada Yumurtalik, na Turquia (1.320 MW), para além da construção de novas centrais que se estendem desde a Mongólia até ao Brasil e Chile. A Rede Europeia de Ação Climática (CAN Europe) expôs os planos da nova central Ada Yumurtalik na Turquia, entre outros. 

Esta semana, várias associações de defesa do ambiente, principalmente da França e da Turquia, enviaram uma carta ao Presidente francês Hollande, apelando ao fim dos projetos para a construção de novas centrais a carvão da Engie na Turquia, antes da Cimeira do Clima em Paris.

Segundo estas associações, a Turquia está a mostrar sinais de uma total falta de ambição climática, com planos para a construção de  75 novas centrais para produção de energia. O país pode  tornar-se, assim, uma verdadeira bomba climática. Se o apoio francês aos novos planos de política energética estiver fora da mesa, serão limitadas as chances da Turquia travar a sua dependência a partir de combustíveis fósseis nas próximas décadas.

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publicado por Quercus às 14:00

Expondo o papel do carvão na Europa

Quinta-feira, 10.09.15

transferir.jpgApesar de muitos reivindicarem que assuma a posição de líder na luta contra as alterações climáticas, a verdade é que a União Europeia (UE) ainda tem cerca de 280 centrais térmicas de carvão para produção de eletricidade, a operar em 22 países.

 

A maioria destas centrais tem mais de 30 anos, o que significa que são ineficientes, fortemente poluidoras e ultrapassadas. Em 2014, a queima de carvão foi responsável por 17% das emissões das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) na UE.

 

Ainda assim, os países europeus continuam a investir dezenas de milhares de milhões de euros nesta indústria em declínio.

A Rede Europeia de Ação Climática (CAN-E, na sigla em inglês) expõe estes factos chocantes e perturbadores sobre o negócio de carvão no website Coal Map of Europe (www.coalmap.eu), hoje lançado. Baseando-se numa extensa pesquisa sobre esta indústria pouco transparente e com base numa variedade de fontes e dados públicos, a CAN-E conseguiu chegar aos aspetos chave da indústria do carvão e produzir oito mapas com os pontos mais cruciais das centrais termoelétricas a carvão.

Pela primeira vez é possível ter uma visão completa e abrangente do parque das centrais a carvão existentes e previstas, com informação adicional sobre poluição e impactes na saúde humana pela queima deste combustível. O "Coal Map" (Mapa do Carvão) também destaca como os governos ainda estão fortemente envolvidos nos interesses desta indústria através de empresas estatais e de subsídios.

 

Os cidadãos dizem NÃO ao carvão

 

O Mapa do Carvão apresenta quinze relatórios de contestações locais e nacionais contra centrais a carvão e minas. Da Escócia à Turquia, cidadãos e organizações não governamentais estão envolvidos em longas batalhas jurídicas para acabarem com o recurso ao carvão. E não sem sucesso: nos últimos anos, a maioria dos projetos de carvão foram cancelados.

A mobilização local está rapidamente a transformar-se numa história pan-europeia contra o carvão.

- Em Itália, uma central termoelétrica foi encerrada, por ordem judicial, em março de 2014, com base acusações de homicídio.

- Especialistas jurídicos conseguiram melhorias numa central a carvão na República Checa, pela ligação entre esta e as consequências climáticas que as ilhas da Micronésia estão a sofrer.

- Na Alemanha, o debate sobre a eliminação progressiva do carvão não é mais sobre se deve acontecer, mas sim quando e como.

- O Parlamento norueguês decidiu que o fundo nacional soberano se destina à alienação de várias empresas de carvão em todo o mundo, depois de meses de protestos internacionais.

 

Os países europeus ainda estão dependentes do carvão para a produção de eletricidade, mas as oportunidades de reduzir o recurso a esta fonte nunca foram tão boas como atualmente. As energias renováveis estão a crescer e a procura de energia a diminuir, de modo que empresas detentoras de centrais para produção de eletricidade a carvão já estão a perder milhões de euros por ano.

 

É preciso que mais governos atuem e acabem com o carvão na europa.

 

O carvão é um dos mais graves entraves na luta contra as alterações climáticas. Se a UE quer ser um líder nas negociações internacionais sobre o clima, então terá de renunciar a esta fonte energética.

 

Portugal sem carvão em 2030, mas deveria chegar lá tão cedo quanto possível

Em Portugal existem duas centrais. A central termoelétrica de Sines, com mais de 30 anos, que é a que tem maior potência no país); e uma mais recente, com cerca de metade da potência, no Pego.

O Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC 2020/2030) recentemente aprovado e publicado, assegura que as duas centrais existentes atingirão o fim da sua vida antes de 2030.

Porém, o contrato associado aponta para o final de exploração em 2017 no caso de Sines e alguns anos mais tarde na central do Pego, tendo havido já diversas declarações onde se assume que o período de funcionamento se vai estender em ambos os casos por mais alguns anos, facto que tem tido a discordância da Quercus.

 

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publicado por Quercus às 11:00

Energia limpa é a chave para combater a pobreza no mundo

Quarta-feira, 26.08.15

paineis.gifA afirmação é do Banco Mundial, que rejeita a tese defendida pela indústria da energia de que o carvão é uma solução para pôr fim à pobreza.

 

As populações em extremas condições de pobreza só poderão sair dessa situação com acesso a fontes de energia fiáveis. Mais de um milhão de pessoas vivem hoje sem acesso a energia, não podendo desenvolver um negócio, dar luz aos mais novos para estudar ou até cozinhar facilmente.

 

Acabar com a pobreza implica combater as alterações climáticas, que afetam todos os países e pessoas. As populações com menos capacidade para se adaptarem - as mais pobres e vulneráveis - serão as mais atingidas, retrocedendo décadas de esforço de desenvolvimento.

 

Como se pode, então, alcançar o duplo objetivo de, por um lado, aumentar a produção energética e torná-la acessível aos que não a têm e, por outro, reduzir drasticamentem as emissões resultantes de fontes poluentes como o carvão, de cuja queima resulta o dióxido de carbono, principal responsável pelas alterações climáticas?

 

Não há uma resposta simples e ao mesmo tempo não é justo pedir às comunidades mais pobres para adiarem o acesso à energia porque o mundo desenvolvido já emitiu demasiado carbono para a atmosfera.

 

Há que parar de subsidiar os combustíveis fósseis

 

Segundo o Banco Mundial, a resposta ao problema passa por cinco áreas chave: construir cidades sustentáveis, resilientes às alterações climáticas; transitar para modelos agrícolas inteligentes e adaptados às mesmas; apostar na eficiência energética e nas energias renováveis; apoiar o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e aumentar o preço do carbono para também fazer subir o custo das emissões.

 

Tal abordagem pressupõe uma separação entre crescimento económico e as emissões de carbono. O crescimento das economias é desejável para uma maior prosperidade, mas pelo caminho é necessário compatibilizá-lo com o corte nas emissões de gases com efeito de estufa.

 

Já são visíveis algumas mudanças, nomeadamente em países que estão a mudar o seu modelo energético dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, através de investimentos consideráveis em fontes como a hidroelétrica, a geotérmica, a solar e a eólica. Entre 2010 e 2012, o incremento das energias renováveis modernas cresceu 4% a nível global. O leste asiático liderou esse esforço, representando 42% na nova produção renovável.

 

Traduzido parcialmente do artigo mais completo disponível em The Guardian.

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publicado por Quercus às 10:03

Obama quer impôr regras climáticas mais duras ao setor energético

Segunda-feira, 03.08.15

Captura de ecrã 2015-08-12, às 18.58.49.pngO Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama recentemente a maior ação de combate às alterações climáticas na história do país, ao impôr ao setor energético cortes rigorosos nas emissões poluentes, uma decisão que enfrenta a oposição feroz de rivais políticos e da indústria.

Acumulando acusações por parte das empresas do carvão e dos Republicanos de que está a "travar uma guerra com o setor do carvão", Obama exige agora reduções maiores nas emissões de gases com efeito de estufa face às que tinha proposto no ano passado, conduzindo ao consequente encerramento de centrais térmicas a carvão e fomentando as energias renováveis como a eólica e a solar.

Estas metas são centrais no objetivo do presidente norte-americano de deixar um legado em termos de ação climática. "As alterações climáticas não são um problema para as gerações vindouras. Já não.", afirmou Obama.

A iniciativa, conhecida como o Plano 'Energia Limpa', é a chave para o cumprimento das promessas nacionais de cortar nas emissões poluentes, quando estamos em contagem decrescente para a Conferência do Clima de Paris, em Dezembro, na qual os líderes mundiais se irão debater para alcançar um novo acordo climático global.

Contudo, enfrentará barreiras legais e políticas.

Dezenas de estados, empresas do carvão e elétricas, bem como legisladores republicados opuseram-se ao plano desde que foi anunciado um documento rascunho no ano passado. Argumentam que estas medidas irão acabar com postos de trabalho, fazer aumentar os custos da eletricidade e pôr em perigo a fiabilidade do abastecimento energético.

Com a maioria dos candidatos presidenciais republicanos a mostrarem-se cépticos face às alterações climáticas, o líder da ala republicana no Senado, Mitch McConnell, instou os governadores a recusarem cumprir este plano.

Este último não carece de aprovação no Congresso, uma vez que se baseia em poderes concedidos ao abrigo das leis da poluição já existentes.

Contudo, mais de uma dúzia de procuradores-gerais estaduais estão entre os que preparam ações judiciais que desafiam a interpretação dos estatutos feita pela Casa Branca.

Apesar da oposição veemente, o plano final apresentado define metas especificas de redução de emissões de carbono para cada Estado e é ainda mais agressivo do que a proposta inicialmente anunciada em Junho.

No geral, exige que o setor elétrico norte-americano corte nas emissões de carbono em 32% até 2030, face aos níveis de 2005 (no ano passado, a meta anunciada tinha sido de 30%).

A produção partilhada de energia renovável em todo o país é projetada em 28% para 2030, mais 6% do que na versão inicial do plano.

De modo a incentivar novos projetos na área das renováveis, a administração Obama irá criar novos programos de incentivo, no âmbito dos quais os Estados podem receber financiamento federal para suportar os seus próprios investimentos.

O setor da eletricidade é a maior fonte isolada de emissões de carbono nos Estados Unidos, representando 31% do total do país. A emissão de gases deste setor que, segundo os cientistas, estão na origem das alterações climáticas nunca esteve sujeita a regulamentações federais.

 

Imagem: www.theguardian.com

 

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publicado por Quercus às 18:18