Autarcas assumem meta de 100% de energias renováveis contra as alterações climáticas
Cerca de mil autarcas, incluindo representantes de sete municípios portugueses, participaram ontem no encontro “Cidades pelo Clima” promovido pela presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, à margem da COP21. O principal resultado da reunião, que decorreu nos Paços do Concelho da capital francesa, foi o compromisso com metas de longo prazo contra as alterações climáticas, nomeadamente a transição de cada comunidade para 100% de energias renováveis, ou uma redução de 80% das emissões de gases de efeito de estufa até 2050.
Com o objectivo de superar as metas do futuro Acordo do Clima de Paris, os compromissos incluíram também a elaboração e implementação, até 2020, de estratégias locais de resiliência, bem como de planos de acção para adaptar as comunidades ao aumento da incidência dos perigos relacionados com as alterações do clima. Outro compromisso passa pela redução anual (conjunta) de 3,7 gigatoneladas de emissões de gases de efeito estufa, até 2030.
O encontro patrocinado pela fundação Bloomberg Philanthropies contou a presença do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, bem como de personalidades envolvidas no tema, como os actores Leonardo DiCaprio, Robert Redford e Sean Penn. DiCaprio, actor, ambientalista e embaixador da ONU para as questões climáticas, apelou aos autarcas que sigam o exemplo de "cidades-modelo, como Vancouver, Sydney, Estocolmo e Las Vegas”, que já se comprometeram a utilizar 100% de energias renováveis nas próximas décadas.
Por seu lado, a ONU aproveitou a ocasião para (re)divulgar o relatório “Estado das Finanças Climáticas das Cidades” (lançado na Cimeira do Clima das ONU, em Setembro), que faz um conjunto de recomendações às cidades, incluindo a adopção de políticas e incentivos ao investimento em infra-estruturas de baixo-carbono resistentes às alterações climáticas. De Portugal, participaram no encontro autarcas de Lisboa, Almada, Águeda, Alfandega da Fé, Oeiras, Reguengos de Monsaraz e Vila Real.
Notícias relacionadas:
COP21: Almada quer salvar Caparica e Lisboa atua nas águas, transportes e eficiência emergética
Cidades querem pressionar chefes de Estado a agir
Autarcas pedem medidas concretas sobre o clima a chefes de Estado e Governo
Autoria e outros dados (tags, etc)
Vancouver vai tornar-se 100% renovável
A cidade de Vancouver, no Canadá, aprovou a sua estratégia se tornar 100% renovável. O conselho municipal já tinha adotado este objetivo em Março de 2015 e os técnicos municipais elaboraram uma estratégia detalhada, abrangendo vários sectores, para cumprir o objetivo.
O conselho aprovou esta semana por unanimidade a “Estratégia para Uma Cidade Renovável” para a cidade de Vancouver. A estratégia expõe a forma como a cidade planeia atingir o objetivo, através do:
- Aumento da eficiência energética em edifícios: em 2050, 70% do parque imobiliário de Vancouver (incluindo todos dentro da comunidade) estará dentro ou próximo do objetivo “carbono zero”;
- Transferência modal significativa na mobilidade urbana, beneficiando os modos suaves (andar a pé e de bicicleta). Aumento das deslocações pendulares em veículos elétricos e híbridos movidos a biocombustíveis, e do transporte comercial em veículos movidos a biometano, hidrogénio e outros combustíveis alternativos (elétricos e híbridos);
- Políticas e programas públicos, incluindo incentivos.
Os próximos passos passam pela implementação e o planeamento da estratégia pelo município.
Em Dezembro, o presidente da câmara municipal irá apresentar esta estratégia na conferência climática, em Paris, na esperança que possa servir de exemplo para outras cidades. Esta liderança vai ajudar a garantir um futuro baseado em eficiência energética e energias renováveis para Vancouver, enquanto outras cidades deverão adotar metas semelhantes.
A proposta de estratégia e o sumário executivo podem ser consultados na página da Internet do município.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Alteração dos usos do solo no Mediterrâneo estão a desencadear grandes mudanças climáticas na Europa e ao nível global
As alterações de uso dos solos que ocorreram ao longo do século passado na zona do Mediterrâneo podem estar a desencadear mudanças nos padrões climáticos locais em toda a Europa, e ao nível global, segundo os resultados de um projecto europeu. Os resultados trazem à luz novas complexidades que podem ser integradas em modelos climáticos e previsões.
A Comissão Europeia lançou e financiou parcialmente vários estudos de monitorização do clima na década de 1970, na sequência da Conferência de Estocolmo. Os dados foram recolhidos através de vários métodos, tais como torres meteorológicas, balões fixos e medições feitas através de aeronaves. Durante a investigação,os cientistas observaram uma diminuição na frequência das tempestades de verão na bacia do Mediterrâneo Ocidental. Esta observação não foi uma parte central dos estudos; mas anos depois, os dados foram reanalisados com este detalhe em mente. Esta última análise foi co-financiada pelo projeto CIRCE da Comissão Europeia.
Os investigadores descobriram que a diminuição das tempestades de verão na bacia do Mediterrâneo Ocidental inicia uma série de eventos que levam à acumulação de vapor de água e poluentes atmosféricos em camadas acima do nível do mar, designado de “modo de acumulação”. Este ciclo pode durar vários dias e acontecer várias vezes por mês durante o verão. Cada ciclo termina com tempestades e inundações potenciais na Europa Central, em vez de precipitação na região do Mediterrâneo. Consequentemente, esta mudança resulta em secas em outras partes do Mediterrâneo durante os meses de verão.
Os investigadores concluíram que estas alterações dos padrões climáticos são um resultado da alteração dos usos do solo ao longo da costa e das regiões montanhosas do Mediterrâneo.
Desde há um século, as zonas pantanosas foram drenadas e as florestas foram destruídas na região. Uma maior urbanização também resultou em grandes quantidades de solo a ser ocupado e impermeabilizado com a construção de habitações e infraestruturas. Este facto resulta em menor evaporação de água, o que faz com que as tempestades de verão se desloquem para áreas mais interiores, em vez da água ser precipitada e reciclada dentro do sistema costeiro mediterrânico. As chuvas intensas expõem as áreas mais interiores ao risco de inundações constantes, erosão do solo e até de contaminação da água por poluentes retidos pelo vapor de água.
A precipitação está a reduzir-se de forma significativa sobre o Mediterrâneo e, por conseguinte, a fluir menos água para o mar. Este facto traz como consequência um aumento da salinidade na interface Atlântica-Mediterrânica, em Gibraltar e pode induzir tempestades intensas na parte atlântica da Europa durante o verão e outono, ou mesmo alterar os padrões climáticos no Golfo do México. Outro efeito decorre da formação de camadas de nuvens, criando um efeito de estufa e aumentando a temperatura da superfície do mar ao largo da costa do Mediterrâneo. Este processo pode ressurgir meses depois, causando tempestades intensas na costa no outono, primavera e inverno.
Em suma, a alteração dos usos do solo na zona do Mediterrâneo está a contribuir para estados severos de desertificação e inundações em outras partes da Europa. As regiões costeiras estão a perder precipitação necessária durante os meses de verão, aumentando a desertificação, mas são também alvo de tempestades intensas durante o outono, primavera e inverno. Enquanto isso, as regiões interiores estão a sofrer inundações durante o verão. Os modelos climáticos atuais baseados em interfaces atmosfera-oceano-terra não são capazes de levar em conta estes processos e, como resultado, podem levar a falsas conclusões sobre o clima futuro. Os investigadores apelam para ações urgentes dos governos, como a rápida reflorestação de áreas destruídas, e exigem mais recursos para investigação no sentido de obter uma melhor previsão dos eventos climáticos extremos.
Autoria e outros dados (tags, etc)
100 cidades europeias assumem compromissos de adaptação às alterações climáticas
Há pelo menos 100 cidades ou municípios europeus disponíveis para tomar medidas para combater as alterações climáticas, entre eles Águeda, Alfândega da Fé, Cascais, Ílhavo, Lisboa e Vila do Conde. A assinatura dos compromissos no âmbito da iniciativa "Mayors Adapt", da Comissão Europeia, teve lugar na quinta-feira, em Bruxelas (ver texto em português).
"Tínhamos o objetivo de estabelecer uma rede de 50 cidades até ao final do ano, mas já dispomos de 100 e outras aguardam a sua vez de aderir. As nossas cidades estão a preparar-se para resistir contra as alterações climáticas. Trata-se de uma boa notícia para os cidadãos e as empresas. Uma boa preparação ficará muito mais barata do que despoluir posteriormente — e pode salvar vidas", salientou a Comissária Europeia responsável pela Ação Climática, Connie Hedegaard.
O projeto foi lançado em março, no âmbito do "Pacto de Autarcas", que se concentra nos esforços para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, enquanto o "Mayors Adapt" centra-se em medidas de adaptação. "Como principais concentrações de população e de infraestruturas, as cidades são particularmente vulneráveis aos fenómenos meteorológicos extremos e aos efeitos adversos das alterações climáticas. Os órgãos de poder local desempenham, por conseguinte, um papel fundamental na implementação de medidas de atenuação e adaptação às alterações climáticas", explica a Comissão Europeia.
Ao aderir à iniciativa, os autarcas beneficiarão de apoio a atividades locais de combate às alterações climáticas, de uma plataforma para a cooperação e de uma maior sensibilização do público em matéria de adaptação e das medidas que devem ser tomadas. A lista de signatários inclui também Barcelona, Copenhaga, Frankfurt, Glasgow, Munique, Nápoles e Paris. Mais informações em http://mayors-adapt.eu/. [Fonte: Comissão Europeia] [ver notícia no Notícias ao Minuto]