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World Energy Outlook 2015 aponta mudanças radicais nas próximas décadas

Quarta-feira, 18.11.15

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Nos próximos 25 anos, a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê uma mudança radical em direção às energias renováveis e longe de fontes de energia mais poluentes (como o carvão), a deslocalização do centro de gravidade do investimento em energias renováveis para a Índia e a perspetiva do continente africano se afastar de fontes de energia mais poluentes.

Estas são algumas das conclusões do último relatório “World Energy Outlook 2015”, divulgado pela AIE esta semana. Com mais de 700 páginas, esta é uma das referências universais mais lidas e respeitadas no que diz respeito a previsões globais relacionadas com a energia. 

Apresenta-se de seguida, e em maior detalhe, as conclusões mais relevantes:

 

China desacelera consumo de carvão

Uma das mudanças mais dramáticas vistas em perspetiva é a desaceleração do consumo de carvão na China. Sendo o país com as maiores emissões de carbono do mundo, a China é responsável pela queima de metade de todo o carvão, depois do crescimento ano após ano do seu consumo e que atingiu 10% ao longo da década de 2000.

O consumo de carvão da China estacionou cinco anos antes da data prevista pela versão anterior (de 2014) deste relatório. Este patamar resulta da combinação de pequenos aumentos no consumo de carvão para a produção de energia elétrica e de uma grande queda, de 35%, no consumo industrial previstos até 2040.

A AIE reduziu significativamente a sua previsão para a procura de energia na China até 2040. O motor do crescimento chinês está a mover-se para longe de indústrias poluentes, a par da construção de novas centrais a carvão mais eficientes, e a capacidade da produção a partir de energias renováveis poderá igualar as capacidades combinadas dos EUA e UE.

No entanto, a AIE aponta que apenas uma dramática desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ou um ritmo de reestruturação económica sem precedentes poderiam provocar reduções mais sustentadas do consumo de carvão.

Dados recentes apontam para o declínio do consumo de carvão ao longo de 2015, a queda da produção de energia, um abrandamento económico e um crescimento do uso de energias alternativas e limpas.

A AIE assume que a China vai atrasar-se no cumprimento de suas metas para introduzir fontes de energia limpa, e um dos cenários parte do pressuposto que a China vai cumprir os compromissos de política climática que apresentou à Organização das Nações Unidas, mesmo que não estejam ainda legalmente em vigor. Se as perspetivas anteriores estiverem erradas e a China cortar o consumo do carvão enquanto cumprir os seus objetivos climáticos, as consequências irão afetar o mercado global do carvão.

 

Índia assume papel central

A Índia será o motor do crescimento global da procura de energia e prepara-se para assumir um papel central. Em 2040, a procura de energia na Índia será quase tão grande como a dos EUA, e contabilizará um quarto do aumento da procura global de energia. No entanto, a procura per capita permanecerá apenas 40% da média global.

A Índia será responsável por quase três quintos do aumento da procura global de carvão até 2040, e de um quarto da procura de petróleo e energia solar.

Mais importante ainda, é preciso destacar que existem forças compensatórias, como a pressão para a descida dos preços do gás natural e a redução de custos das tecnologias baseadas em energias renováveis. Esses fatores podem limitar os aumentos esperados no apetite da Índia por carvão. A ascensão da Índia como uma potência energética é construída sobre fortes expectativas de crescimento do PIB e de uma população em crescimento com grande necessidade de fornecimento de energia.

A AIE também afirma que as revisões dos dados oficiais do PIB da Índia impulsionaram o crescimento da sua economia, e, portanto, as suas perspetivas de crescimento futuro e as necessidades de energia. Isto evidencia-se no aumento da procura de energia elétrica na Índia em 2040, 9% acima do que se previa no ano passado. Tal como acontece com a China, o relatório da AIE assume que a Índia vai perder (ou atrasar-se no cumprimento de) muitos dos seus objetivos de política climática.

Renováveis na liderança

Apesar depressupostos conservadores sobre a hipótese de alguns países alcançarem as suas metas internas de promoção de fontes de energia limpa, a AIE destaca que as energias renováveis vão ultrapassar o carvão para se tornarem a maior fonte mundial de energia já no início de 2030. Enquanto nos últimos anos o crescimento tem sido impulsionado pela energia hídrica, a eólica e a solar vão assumir uma posição de maior destaque nos próximos anos.

Sob esta visão positiva para as renováveis, há pressupostos também conservadores. A AIE destaca a queda dos custos associados com a energia solar de cerca de 40% entre 2014 e 2040, e da energia eólica onshore (em terra) em torno de 15%. Este pressuposto implica que a capacidade de produção renovável duplique duas vezes nos próximos 25 anos num sector que está a crescer, atualmente, cerca de 30% ao ano. 

A AIE foi bastante criticada por subestimar consistentemente o potencial das energias eólica e solar. Os relatórios anteriores apresentaram previsões de crescimento linear idênticas ou abaixo dos níveis mais recentes. O relatório de 2015 segue o padrão, prevendo-se 34GW de nova capacidade de produção a partir de energia solar e 40-45GW de nova capacidade para energia eólica anualmente até 2040.

Esta previsão parece estar em desacordo com a história recente, quando a capacidade de energia solar cresceu 40 GW só em 2014 e a taxa de crescimento foi, em média, quase 50% ao longo da última década. No que diz respeito à energia eólica, 52GW foi o aumento da capacidade de produção só em 2014 e o crescimento médio na década anterior foi de 23% ao ano.

A cada ano, as previsões da AIE são revistas em alta. Em 2015, esta tendência manteve-se, projetando-se um aumento de 10-20% de capacidade de produção a partir de energia solar até 2040, e cerca de 5% de energia eólica, comparativamente com as previsões da AIE há um ano atrás. No entanto, as taxas de crescimento esperadas permanecem lineares.

 

África pode dar o salto depois do carvão

No relatório da AIE, África contrasta com as principais economias do mundo - UE, EUA e China – todas assentes num crescimento económico que se baseou inicialmente no carvão. Mas levantam-se perspetivas do continente africano, de uma forma eficaz, basear o seu crescimento económico no fornecimento de energias renováveis para o futuro.

A AIE alinha, em termos gerais, com a visão do Banco Africano para o Desenvolvimento de eletrificar o continente africano através de um forte investimento em energias renováveis; no entanto, coloca mais peso sobre o gás natural. Mais uma vez, o relatório da AIE reflete as suposições subjacentes sobre os custos relativos às energias renováveis no futuro.

Segundo o Banco Africano para o Desenvolvimento, existe potencial para uma verdadeira revolução das energias renováveis em África, com potencial para 11 TW de energia solar, 350GW de hídrica e 110GW de eólica. Em contraste, a AIE prevê apenas 151GW de energia solar, 434GW de hídrica e 65GW de eólica em 2040.

 

Conclusão

O World Energy Outlook 2015 divulgado pela AIE é uma contribuição abrangente e valiosa para a evolução do setor da energia ao nível global. A edição deste ano encontra sinais inconfundíveis de que a transição energética global é necessária e está já em andamento. A China está a abrandar o seu consumo de energia sobretudo carvão, enquanto a Índia vai assumir uma posição central e as energias renováveis, longe de serem um nicho, vão tornar-se a espinha dorsal do sistema global de produção de energia elétrica. Estas visões de futuro, mesmo que de alguma forma conservadoras, asseguram sinais positivos para uma ação bem sucedida no combate às alterações climáticas.

 

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publicado por Quercus às 09:39

Promessas vazias: G20 financia combustíveis fósseis mais do que energias renováveis

Sexta-feira, 13.11.15

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 Os países do G20 atribuem, em média, 452 mil milhões de dólares por ano do erário público em subsídios para a produção de combustíveis fósseis. Esta é a principal conclusão de um estudo hoje divulgado pelas organizações Oil Change International, Overseas Development Institute e Global Subsidies Initiative.

O apoio continuado à produção de combustíveis fósseis traz consequências para a economia, com consequências desastrosas para o clima global.

Com efeito, os governos continuam a sustentar a produção de petróleo, gás e carvão, no entanto a maioria destes recursos não pode ser explorada se o mundo quiser evitar as consequências das alterações climáticas nas próximas décadas. É importante reconhecer que os países do G20 estão desta forma a permitir que a exploração de combustíveis fósseis mine os compromissos climáticos assumidos internacionalmente, enquanto subsidiam esta atividade de grande impacto climático.

Em 2009, os líderes do G20 comprometeram-se a eliminar gradualmente os subsídios para os combustíveis fósseis. Na verdade, poucos subsídios são mais ineficientes do que os atribuídos aos combustíveis fósseis. No entanto, o relatório aponta para um grande fosso entre o compromisso e a ação efetiva do G20. Esta lacuna reflete-se no valor de 452 mil milhões de dólares anuais atribuídos para a produção de combustíveis fósseis em 2013 e 2014. Para colocar esse número em contexto, é quase quatro vezes o valor estimado pela Agência Internacional de Energia (AIE) relativo aos subsídios globais para as energias renováveis em 2013.

Este relatório documenta pela primeira vez a dimensão e a estrutura destes subsídios atribuídos a algumas das maiores empresas do mundo e mais poluentes. A análise dos subsídios apresentados neste relatório é consistente com a definição assumida pela Organização Mundial do Comércio (OMC) acordada por 153 países. Foram identificados três tipos de subsídios à produção de combustíveis fósseis:

  • subsídios nacionais atribuídos através de despesas diretas e incentivos fiscais no valor de 78 mil milhões de dólares;
  • investimentos feitos por empresas de capital maioritariamente público no total de 286 mil milhões de dólares;
  • financiamentos provenientes de bancos maioritariamente públicos e outras instituições financeiras e que totalizam 88 mil milhões de dólares anuais, em média, em 2013 e 2014.

Reino Unido destaca-se entre os membros do G20 onde se verificou um aumento significativo dos subsídios para os combustíveis fósseis nos últimos anos, ao mesmo tempo que assumiu o corte de subsídios às energias renováveis (sobretudo solar) e à eficiência energética. As associações de defesa do ambiente esperam que esta e outras revelações possam trazer constrangimentos para alguns países que querem assumir uma posição de liderança na próxima cimeira do clima em Paris, mas cujas políticas internas mostram uma realidade distinta dos compromissos que assumem internacionalmente.  

O próximo dia 14 de novembro será marcado por um apelo global para exigir aos líderes mundiais a eliminação gradual dos subsídios perversos aos combustíveis fósseis. Para mais informações, clique aqui.

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publicado por Quercus às 09:32