Alteração dos usos do solo no Mediterrâneo estão a desencadear grandes mudanças climáticas na Europa e ao nível global
As alterações de uso dos solos que ocorreram ao longo do século passado na zona do Mediterrâneo podem estar a desencadear mudanças nos padrões climáticos locais em toda a Europa, e ao nível global, segundo os resultados de um projecto europeu. Os resultados trazem à luz novas complexidades que podem ser integradas em modelos climáticos e previsões.
A Comissão Europeia lançou e financiou parcialmente vários estudos de monitorização do clima na década de 1970, na sequência da Conferência de Estocolmo. Os dados foram recolhidos através de vários métodos, tais como torres meteorológicas, balões fixos e medições feitas através de aeronaves. Durante a investigação,os cientistas observaram uma diminuição na frequência das tempestades de verão na bacia do Mediterrâneo Ocidental. Esta observação não foi uma parte central dos estudos; mas anos depois, os dados foram reanalisados com este detalhe em mente. Esta última análise foi co-financiada pelo projeto CIRCE da Comissão Europeia.
Os investigadores descobriram que a diminuição das tempestades de verão na bacia do Mediterrâneo Ocidental inicia uma série de eventos que levam à acumulação de vapor de água e poluentes atmosféricos em camadas acima do nível do mar, designado de “modo de acumulação”. Este ciclo pode durar vários dias e acontecer várias vezes por mês durante o verão. Cada ciclo termina com tempestades e inundações potenciais na Europa Central, em vez de precipitação na região do Mediterrâneo. Consequentemente, esta mudança resulta em secas em outras partes do Mediterrâneo durante os meses de verão.
Os investigadores concluíram que estas alterações dos padrões climáticos são um resultado da alteração dos usos do solo ao longo da costa e das regiões montanhosas do Mediterrâneo.
Desde há um século, as zonas pantanosas foram drenadas e as florestas foram destruídas na região. Uma maior urbanização também resultou em grandes quantidades de solo a ser ocupado e impermeabilizado com a construção de habitações e infraestruturas. Este facto resulta em menor evaporação de água, o que faz com que as tempestades de verão se desloquem para áreas mais interiores, em vez da água ser precipitada e reciclada dentro do sistema costeiro mediterrânico. As chuvas intensas expõem as áreas mais interiores ao risco de inundações constantes, erosão do solo e até de contaminação da água por poluentes retidos pelo vapor de água.
A precipitação está a reduzir-se de forma significativa sobre o Mediterrâneo e, por conseguinte, a fluir menos água para o mar. Este facto traz como consequência um aumento da salinidade na interface Atlântica-Mediterrânica, em Gibraltar e pode induzir tempestades intensas na parte atlântica da Europa durante o verão e outono, ou mesmo alterar os padrões climáticos no Golfo do México. Outro efeito decorre da formação de camadas de nuvens, criando um efeito de estufa e aumentando a temperatura da superfície do mar ao largo da costa do Mediterrâneo. Este processo pode ressurgir meses depois, causando tempestades intensas na costa no outono, primavera e inverno.
Em suma, a alteração dos usos do solo na zona do Mediterrâneo está a contribuir para estados severos de desertificação e inundações em outras partes da Europa. As regiões costeiras estão a perder precipitação necessária durante os meses de verão, aumentando a desertificação, mas são também alvo de tempestades intensas durante o outono, primavera e inverno. Enquanto isso, as regiões interiores estão a sofrer inundações durante o verão. Os modelos climáticos atuais baseados em interfaces atmosfera-oceano-terra não são capazes de levar em conta estes processos e, como resultado, podem levar a falsas conclusões sobre o clima futuro. Os investigadores apelam para ações urgentes dos governos, como a rápida reflorestação de áreas destruídas, e exigem mais recursos para investigação no sentido de obter uma melhor previsão dos eventos climáticos extremos.
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Cientistas alertam para danos sem precedentes nas florestas de todo o mundo
As florestas de todo o mundo estão a ser afetadas pela ação do homem, tanto de forma direta através da desflorestação, como indireta devido às alterações climáticas, segundo afirmam especialistas numa edição especial da revista Science.
Num conjunto de revisões aos últimos estudos sobre o estado das florestas mundiais, a comunidade científica concluiu que elas estão longe de estar na sua melhor forma, por terem vindo a enfrentar os efeitos das alterações climáticas ao longo do século. Isso poderá afetar a sua capacidade futura de absorver e armazenar carbono.
Distribuição da floresta
As florestas mundiais podem dividir-se, de uma forma genérica, em três categorias segundo o local onde se encontram. Temos o clima quente e húmido das florestas tropicais nas regiões equatoriais; o clima ameno das florestas temperadas nas latitudes médias e o frio extremo das florestas boreais no Norte.
Distribuição das florestas mundiais. Créditos: Nicolle Rager Fuller, National Science Foundation.
As florestas tropicais albergam metade das espécies vegetais e animais de todo o planeta. O impacto de ações humanas como a desflorestação e o abate ilegal para cultivo ou exploração mineira deixaram menos de um quarto dessas florestas tropicais intactas, segundo os cientistas. Os três quartos restantes estão já ou fragmentados ou degradados.
As áreas a cinzento no mapa em baixo mostram a desflorestação desde 1700. As áreas vermelhas mostram os locais recentemente afetados por esta prática. No próximo século, a ameaça da desflorestação será crescente, combinada com os iminentes impactos das alterações climáticas.
Tradução parcial do artigo completo disponível aqui
Fonte: carbonbrief.org
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Amazónia peruana manchada de sangue antes da Cimeira do Clima e da COP20, denunciam indígenas
A Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazónica (COICA) denunciou esta semana que o vermelho do sangue índigena continua a manchar o verde da floresta amazónica, numa área de 240 milhões de hectares fundamentais para a biodiversidade e para o clima do planeta. Em causa está o assassinato de quatro líderes Ashaninka - Edwin Chota Valera, Leoncio Quincima Meléndez, Jorge Ríos Pérez e Francisco Pinedo - da comunidade peruana de Saweto, vítimas da contestação aos madeireiros ilegais [ver notícia no Terra Magazine].
“Manifestamos a nossa profunda indignação, dor e raiva, acumulada durante anos e até séculos, porque o sangue índio continua a ser derramado pela violência, o racismo, a negligência, a indiferença, contra nós, «os índios não valem nada»”, lê-se no comunicado da COICA, uma organização composta por nove organizações indígenas do Peru, Equador, Brasil, Colômbia, Guiana Francesa, Guiana, Suriname, Bolívia e Venezuela.
Os índios dizem-se indignados pela “colonização” que persiste nos seus territórios, sobre os quais têm direitos, e sobre os quais reclamam mais atenção. “Os territórios indígenas são a garantia para o arrefecimento do planeta, prestes a rebentar devido às alterações climáticas. As nossas florestas armazenam mais de 96 mil milhões de toneladas de CO2, o equivalente a todas as emissões mundiais dos últimos 3 anos”, afirmam.
A COICA aproveita a realização da Cimeira do Clima, em Nova Iorque, já na próxima semana, e da COP 20, no Peru, em Dezembro, para reclamar maior sensibilidade política para o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas sobre mais de 100 milhões de hectares ainda não titulados. “Exigimos o reconhecimento desta dívida histórica de gratidão, bem como a titulação e o apoio para a gestão holística dos territórios indígenas da bacia amazónica, ao serviço da humanidade”.