Bioenergia e CCS: solução ou ilusão para a crise climática?
Um estudo recentemente divulgado pela organização internacional Biofuelwatch, analisa a literatura científica e outras evidências relacionadas com possíveis investimentos e as políticas pertinentes sobre a BECCS. Esta tecnologia combina o uso de bioenergia com a captura e armazenamento de carbono (CCS, da sigla em inglês).
Consiste, na prática, na captura de CO2 emitido em instalações de produção de biocombustíveis ou centrais de biomassa, e no enchimento forçado em formações geológicas. A ideia é baseada na suposição que a bioenergia, em grande escala, poderia ser neutra em carbono, ou pelo menos teria baixas emissões de carbono, e que o armazenamento de todo ou, pelo menos, parte do CO2 emitido nos processos de produção de energia ou refinação, poderia reduzir os níveis de carbono.
A Agência Internacional de Energia (AIE) define a BECCS como “uma tecnologia capaz de reduzir emissões de carbono e que oferece a remoção líquida permanente de CO2 da atmosfera.” Vários estudos sugerem que a BECCS poderia, no futuro, remover tanto como 10 mil milhões de toneladas de CO2 por ano. Esta ideia ganhou proeminência desde que o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas (IPCC, na sigla em inglês) publicou o seu mais recente 5º Relatório de Avaliação, em 2014.
A maior parte dos modelos considerados pelo IPCC sugere que manter o aumento da temperatura média global abaixo do limite internacionalmente assumido de 2ºC só será possível com a BECCS, em conjunto com reduções rápidas das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). É verdade que a urgência da crise climática exige a redução drástica das emissões de GEE, bem como a exploração de meios credíveis para a remoção de parte do CO2 na atmosfera. Mas a questão é se a BECCS, hoje ou no futuro, poderia ser um meio credível de retirar CO2 da atmosfera.
Para que isso seja possível, existem três condições que precisam de ser cumpridas: em primeiro lugar, seria necessário mostrar que as emissões totais de GEE associadas com o cultivo, remoção, transporte e processamento de biomassa para fins energéticos poderiam ser mantidas a um nível mínimo, e que a bioenergia de baixas emissões de carbono poderia ser ampliada significativamente. Em segundo lugar, as tecnologias necessárias teriam de ser viáveis técnica e economicamente, e não apenas em pequenos projetos-piloto, mas numa escala comercial significativa. E, finalmente, o armazenamento seguro de longo prazo de CO2 teria de ser comprovado.
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Precisamos de acabar com as emissões de carbono até 2050 para manter o aquecimento global abaixo de de 2°C
O que significa na prática manter o aquecimento global do planeta abaixo de 2ºC/1,5ºC? De acordo com o 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), após 2010 só podemos adicionar ao CO2 existente na atmosfera mais 1000 giga toneladas (ou 1 bilião de toneladas). Este é o limiar que nos permite uma probabilidade superior a 66% de manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC.
É o nosso “orçamento de carbono”. Para manter o aquecimento abaixo de 1,5 ° C a quantidade de CO2 adicional é consequentemente menor. Mas desde 2010 já gastamos cerca de 10% deste “orçamento”. Parando o aumento de emissões anuais globais hoje, em 25 anos usaríamos o resto do nosso orçamento e um terço seria gasto já até 2020. Como as emissões atuais ainda estão a aumentar, o nosso orçamento de carbono acabará ainda mais cedo.
O que significa isto? Significa que é fundamental atingir o pico de emissões o mais cedo possível e um declínio das emissões ao nível global, para que seja possível alcançar a meta de longo prazo dos 2ºC/1,5ºC. Isto significa também que não devemos focar-nos na divisão das emissões entre países ou setores. É necessário eliminar as emissões de CO2 e rapidamente.
Este “orçamento de carbono” implica que as emissões de CO2 (maioritariamente resultantes da queima de combustíveis fósseis) precisam de ser reduzidas a zero até perto do ano 2050, se queremos ter uma certeza elevada de que conseguimos manter o aquecimento global abaixo de de 2°C e alguma certeza de que ficarmos abaixo de 1,5°C.
Isto significa também que não faz sentido continuar à procura de novos combustíveis fósseis, gastando milhões em subsídios no apoio à sua exploração. Já encontrámos o suficiente e cerca de 80% dessas reservas devem ser deixadas por explorar.
Obviamente, no espírito de equidade, que o IPCC considera ser a chave para o êxito da cooperação, os países com a maior responsabilidade e capacidade terão de começar primeiro a eliminar progressivamente as suas emissões fósseis, para além de fornecer apoio aos países mais pobres para que consigam fazer o mesmo. (adaptação deste artigo)
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Temperatura diária em Portugal pode subir 5 a 8 graus até 2100, alerta a Quercus com base no último relatório do IPCC
Entrevista de Francisco Ferreira, da Quercus, no Bom Dia Portugal, da RTP, sobre o último relatório da ONU sobre as alterações climáticas:
Excerto no Jornal da Tarde:
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Síntese do Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC)
Acaba de ser divulgado, em Copenhaga, o relatório síntese do Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), o culminar de cinco anos de trabalho científico e a síntese dos três relatórios temáticos lançados nos últimos 12 meses.
Sumário para decisores políticos
Relatório síntese (versão alargada)
Links para todos os documentos do do Quinto Relatório de Avaliação
O documento reforça que “a influência humana sobre o sistema climático é clara” e que são igualmente claros os alertas do IPCC. “A justificação científica para darmos prioridade à acção contra as alterações climáticas é mais clara do que nunca”, disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri, que alerta que já não temos muito tempo para garantir que o aumento da temperatura do planeta fique abaixo do limiar dos 2ºC.
Segundo os cientistas, "o aquecimento global é inequívoco e, desde a década de 1950, muitas das alterações observadas não têm precedentes nos últimos milénios". "Cada uma das últimas três décadas foi sucessivamente a mais quente desde 1850 e a temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012."
Para o IPCC, é "extremamente provável" que esta subida da temperatura fique a dever-se à acção humana sobre o planeta, sobretudo através das emissões de gases de efeito de estufa (GEE), cuja concentração na atmosfera alcançou o nível mais elevado dos últimos 800 mil anos.
Para tentar manter a subida da temperatura abaixo dos 2ºC a custos aceitáveis, será necessário diminuir globalmente as emissões de GEE entre 40 a 70% até 2050, e eliminá-las totalmente até 2100, defendem os cientistas. “Existe o mito de que a ação climática vai custar-nos muito, mas a inação vai custar-nos ainda mais”, alerta o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon.
Relatório-síntese - sumário para decisores:
IPCC Fifth Assessment Report - Summary for Policymakers por Quercus ANCN
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5º Relatório do IPCC anunciado este domingo: Quercus alerta para o mais extenso e dramático relatório sobre alterações climáticas
A última parte do Quinto Relatório de Avaliação, elaborado pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), será lançada no próximo domingo, dia 2 de novembro, em Copenhaga, na Dinamarca, numa conferência de imprensa que terá início às 10h (hora de Portugal), após uma semana de negociações entre representantes dos governos para acordar um Sumário para Decisores Políticos. [evento no Facebook]
Após a publicação dos relatórios de três Grupos de Trabalho (GT) ao longo dos últimos 12 meses – sobre a ciência das alterações climáticas (GT1), a vulnerabilidade a impactes climáticos e adaptação (GT2) e as estratégias de mitigação para combater as alterações climáticas (GT3) – o último a ser agora publicado é o Relatório-Síntese, o qual combina e agrega o trabalho realizado pelos três GT num único documento. É o culminar de 5 anos de trabalho científico elaborado por 830 autores, 1.200 outros contributos e 3.700 revisões por especialistas e que resultaram na compilação de mais de 30.000 trabalhos de investigação e de 143.000 comentários para produzir um relatório sem precedentes, baseado nas últimas evidências científicas.
Analisando os relatórios anteriores publicados pelos GT, o IPCC tem demonstrado de forma inequívoca que as alterações climáticas estão de facto a acontecer, causadas pela ação humana e com consequências graves em todos os continentes e oceanos. O relatório deixa claro que o aquecimento global ainda pode ser limitado abaixo dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, de forma a garantir um futuro climático mais seguro e sem prejuízo para o planeta.
Lançado pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a 2 de novembro, o Relatório-Síntese terá em conta esses resultados cruciais. Espera-se que confirme a necessidade de uma transição rápida para uma economia global baseada em energias limpas onde a sociedade possa usufruir de benefícios económicos e adaptar-se às alterações climáticas, ou seguir um caminho onde o aumento das emissões de carbono ao nível global possa agravar ainda mais as alterações climáticas e ameaçar a sociedade e economia global.
Na realidade, o Relatório-Síntese vai apresentar aos governos que se comprometeram com este documento uma escolha decisiva para o futuro: investir em energias limpas para as próximas décadas ou continuar a manter uma economia baseada no consumo de combustíveis fósseis. Os cientistas do IPCC enviam esta mensagem importante num momento particularmente crítico para as negociações climáticas a decorrer no âmbito das Nações Unidas, onde os governos se comprometeram a negociar um novo acordo global até 2015.
Na sequência da recente Cimeira para o Clima, em Nova Iorque e da maior mobilização de sempre de cidadãos na defesa de maior ação climática, este Relatório-Síntese é a última palavra da comunidade científica antes da próxima reunião da Conferência das Partes (COP21) que irá decorrer em Paris em 2015, providenciando toda a informação necessária para os líderes mundiais assumirem, nesta reunião, compromissos importantes sobre a ação climática.
Quercus irá pronunciar-se sobre conclusões principais
Um mês depois da mobilização recorde de 700 mil pessoas em várias cidades por todo o mundo numa chamada sem precedentes para a ação climática – incluindo várias cidades portuguesas - os especialistas irão certamente reiterar duas conclusões fundamentais: que as alterações climáticas são uma ameaça real causada pela ação humana e que a resolução da crise climática requer reduções urgentes e drásticas nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE). A Quercus acompanhará atentamente o anúncio deste último relatório e irá efetuar uma análise, a ser divulgada após a conferência de imprensa de domingo, dia 2 de novembro.
Lisboa, 31 de outubro de 2014
A Direção Nacional da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza