Metas de redução de GEE em vigor farão temperatura global subir até 3,4ºC em 2100
A um dia de entrar em vigor o Acordo de Paris, Quercus reforça o alerta
Relatório da ONU divulgado hoje alerta que é preciso um corte adicional de 25% nas emissões de GEE para 2030
É preciso incrementar urgentemente o nível de ambição dos objetivos de redução de gases com efeito de estufa (GEE) para ser possível manter o aquecimento global do planeta abaixo dos 2ºC (idealmente 1,5ºC), face aos níveis pré-industriais.
De acordo com a comunidade científica, para que isso seja possível, o limite máximo de emissões a registar-se em 2030 teria de estabilizar nas 42 gigatoneladas de dióxido de carbono (CO2) como principal GEE. Estas são algumas conclusões do ‘Emissions Gap Report 2016’, hoje divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA).
Reforçando os apelos que têm vindo a ser veiculados pelos movimentos ambientalistas, e que a Quercus também divulgou no início desta semana, este relatório vem demonstrar que as metas de redução das emissões atualmente assumidas pelos governos conduzirão o planeta por uma rota perigosa de aquecimento da temperatura média global, que ultrapassa os limites de segurança a partir dos quais não será possível evitar as consequências mais graves das alterações climáticas.
Com as atuais metas de redução, as emissões de CO2 atingirão em 2030 valores entre as 54 e as 56 gigatoneladas. Como termo de comparação, 1 gigatonelada é o equivalente às emissões anuais do setor dos transportes de toda a União Europeia, incluindo a aviação. Este cenário significaria um aumento da temperatura entre os 2,9oC e os 3,4oC, muito acima do limite traçado pelo Acordo de Paris, que entra em vigor amanhã, 4 de novembro.
O relatório do PNUMA acrescenta ainda que, caso se leve demasiado tempo a rever as metas atuais de redução de GEE e aumentar os níveis de ambição, poderá perder-se mesmo a oportunidade de alcançar o objetivo dos 1,5ºC, aumentando também os custos associados à transição para uma economia de baixo carbono.
Nesse sentido, é ‘urgente’ cortar em mais 25% as emissões previstas para 2030.
A Quercus, enquanto membro da Rede Europeia para a Ação Climática, relembra que a União Europeia (UE) desempenha um papel importante no alavancar deste esforço adicional. Para impulsionar a ação climática antes de 2020, a UE precisa de cancelar o excesso de licenças de emissão - mais de 3 mil milhões - que terá acumulado até 2020, no âmbito do Regime de Comércio de Licenças de Emissão da União Europeia (RCLE-UE).
De acordo com a proposta em cima da mesa para a revisão da Diretiva que regulamenta o RCLE-UE, essas licenças poderão vir ser usadas no período pós-2020 para baixar o nível de ambição das metas de redução de emissões de GEE para 2030.
O ‘Emissions Gap Report’ está disponível em: http://web.unep.org/emissionsgap/
As expectativas da Quercus para a COP22: http://climaticas.blogs.sapo.pt/quercus-exige-mais-ambicao-aos-69066
Quercus em Marraquexe já na próxima semana
A Quercus, membro da Rede Europeia de Ação Climática (CAN-Europe), estará presente em Marraquexe a partir da próxima semana e até ao final da COP22, integrada na delegação oficial portuguesa e como representante das organizações não-governamentais portuguesas de ambiente e da sociedade civil.
Lisboa, 3 de novembro de 2016,
A Direção Nacional da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza
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Esgotámos em 8 meses os recursos do planeta para todo o ano
Em menos de oito meses, a humanidade já consumiu mais recursos naturais do que os que o planeta consegue produzir num ano. 13 de Agosto foi a data designada como o Earth’s “overshoot day”, isto é, o dia em que ultrapassámos os limites anuais da Terra e entrámos no que se pode chamar de dívida ecológica - quatro dias mais cedo do que em 2014.
Quem o afirma é a Global Footprint Network (GFN), baseando a data indicada numa comparação entre o atual ritmo de consumo / sobrecarga por parte da humidade (em termos de emissões de carbono, área de cultivo, stocks de pesca e abate de florestas) e a capacidade do planeta para regenerar tais recursos e capturar naturalmente o carbono emitido.
Uma vez que estamos a consumir a um ritmo mais rápido do da renovação dos recursos naturais, o impacto deste consumo em excesso é maior e os seus danos são mais difíceis de reverter.
A GFN estima que o consumo global excedeu pela primeira vez as capacidades do planeta nos anos 70, sendo que desde aí o “overshoot day” tem vindo a ocorrer cada vez mais cedo em cada ano, devido ao crescimento da população mundial, a par do exponencial aumento do consumo a nível global.
Segundo Mathis Wackernagel, presidente da GFN, o problema não é (só) o facto de termos um défice crescente, mas também de o mesmo não ser sustentável no longo prazo. Wackernagel afirmou ao jornal The Guardian que "mesmo perante esta situação, não estamos a tomar medidas para seguir o rumo certo. É um problema psicológico: de alguma forma está a escapar-nos esta lei básica da física. É óbvio para as crianças, mas para 98% dos especialistas em economia é um risco menor que não merece a nossa atenção. No final, a pergunta certa é: será que importa aos governos?"
Segundo a GFN, seriam precisos 1,6 planetas para suportar o ritmo atual de consumo da população mundial, prevendo-se que este número aumente para 2 planetas em 2030, se nada mudar. Caso as emissões globais de CO2 não diminuam, em 2030 o 'overshoot day' será mais cedo - a 28 de Junho. Já num cenário optimista de redução das emissões de CO2 em 30% face aos valores atuais, esse dia recuará até a 16 de Setembro.
Saber mais em: http://www.overshootday.org/
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Primeiro semestre de 2015 foi o mais quente dos últimos 85 anos
Entre Janeiro e Junho de 2015 registou-se a média das temperaturas máximas do ar mais elevada dos últimos 85 anos - 20,06 graus - de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
29 de junho de 2015 foi o dia mais quente do ano, em que se registou uma temperatura máxima de 43,2ºC em Beja.
Já considerando o valor médio da temperatura do ar (que foi de 14,30ºC), o primeiro semestre de 2015 foi apenas o nono mais quente desde 1931, ano em que começaram a ser feitas estatísticas meteorológicas em Portugal.
As quatro ondas de calor registadas nos seis primeiros meses do ano (27 de março a 7 de abril; 9 a 15 de maio; 21 maio a 10 junho e 25 a 30 junho) contribuiram para este pico e trouxeram não só uma primavera mais quente do que seria 'normal', mas também um verão que se prevê continuar a registar temperaturas altas.
No que respeita à precipitação, o valor médio do primeiro semestre de 2015 foi de 258,8 milímetros (mm), bastante abaixo da média, que se situa nos 461 mm. Este foi o sexto valor mais baixo desde 1931, tendo o recorde sido registado em 2005, com 154,6 mm.
A nível global, o mês de junho e o primeiro semestre deste ano foram os mais quentes de sempre. A temperatura média global do Planeta atingiu os 16,33ºC, segundo o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Segundo Jessica Blunden, cientista do NOAA, é difícil que 2015 não venha a ser o ano mais quente de sempre.